terça-feira, 12 de abril de 2016

Samael, o caçador de imortais

"Foi pois Caim perante Abel e disse-lhe:
- Irmão, preciso falar-lhe.
- Fala pois. Que não exista cerimônias entre mim e ti, pois somos do mesmo sangue e da mesma carne. - Responde Abel
- Meu coração pesa irmão, e se entristece. Já não sei como agir ante minha angustia! - continua Caim - Por que se abate teu coração? Não tem pois o Criador provido tudo o que precisas, e suprido com sobra todas as tuas necessidades? Pois a terra se abre para ti, e de seu fruto te sustenta, tu e tua família, e não padeces nem da ausência de pão, tão pouco de água, ou mesmo de mosto. - Respondeu Abel, observando o semblante caído do amado irmão.
- Vem comigo ao campo, e lá falaremos, pois aqui não falamos privativamente. - sugeriu Caim
- Que temes pois de meus filhos e de minha esposa irmão? - indaga Abel
- Nada tenho a temer perante eles, mas temo que o assunto que tenho a tratar, possa diminui-me aos olhos de tua prole e de tua esposa, algo que de maneira nenhuma admito que aconteça. Desta forma, se não podes sair agora e caminhar com teu irmão, retornarei amanhã ao por do sol, caminharemos, e te falarei e tu me ouvirás. - Caim sugere atormentado
- Seja feito pois, conforme a tua vontade irmão. Amanhã ao por do sol, te esperarei no campo, onde trouxeste os frutos da terra à presença do Criador. Lá falaremos. - Abel fala ao irmão segurando-lhe a cabeça entre as mãos. Caim  despede-se, e deixa Abel. Seu coração permanece atormentado. Não retorna a sua habitação naquela noite, e dorme no campo seguro de que nada o ameaçava. Na mesma noite, teve Caim um sonho. Nele uma serpente e uma ave lhe falavam:
- O Criador te abandonou Caim, não recebeu as tuas oferendas. Sendo você o primogênito... De certo, caíste em desgraça! - Falou a serpente
- Por que pois, aceitaria o Criador as oferendas de teu irmão mais novo, Abel, e não as tuas? - Sugeriu a ave
- Tu és o primogênito dos primeiros, teus pais viram a face do Criador, e comeram do jardim d'Ele, privilégio negado a todos os outros também por Ele criados . - Continuou a serpente. Caim tentava falar e não conseguia, como se estivesse meio dormindo, meio acordado, tomado por uma letargia infinda, tentando desesperadamente acordar.
- Caim, seu tolo, você tem nas suas mãos o poder de mudar isso!! Exija ante a face de seu irmão teu direito de primogênito concedido a você pelo próprio Criador. - a serpente novamente falava, bem mais próxima de Caim.
- Quem é você? - Conseguiu gemer Caim
- Ele fala...! - comentou a ave
- Abel tomou para si, a mais bela esposa, que por direito seria tua. Com suas oferendas de sangue, tomou teu lugar ante o Criador, e Este, o abençoou com as riquezas que deveriam ser tuas. - falou a ave
- Quem é você? - insistiu Caim em meio a sua dor
- Não é de muita serventia ele falar...! Ele apenas fala isso...! Quer saber quem somos? - falou a serpente sorrindo
- Eu tenho diversos nomes, agora, você pode chamar-me de Quetzalcóatl, o conselheiro.- Falaram a serpente e a ave em uníssono. A serpente atacou a ave e a devorou, quando apenas a cabeça da ave ainda estava visível, esta assumiu o lugar da cabeça da serpente, e duas grandes asas de ave brotaram do corpo alongado da serpente, como se um animal tivesse se fundido ao outro. Do bico da ave cresceram dois grandes dentes de serpente e uma língua partida. A ave-serpente levantou vôo e falou antes de desaparecer:
- Pense nisso, filho de Adão.
Caim abriu os olhos alarmado, faltavam poucas horas para o pôr do sol, banhou-se então, vestiu suas roupas de pele, e partiu ao encontro do irmão.
Uma tristeza profunda o preenchia por inteiro, ele não se alimentou, não tomou água nem esteve com sua esposa.
Ao chegar, encontrou Abel sentado sobre uma pedra próxima ao altar.
- Fala-me, o que te aflige irmão? - Pergunta Abel
- O Criador não recebe mais minhas oferendas, Ele me abandonou à minha própria sorte, e agora cai em desgraça. - Fala Caim;
Abel, ao ouvir-lhe faltaram-no as palavras, e ele apenas olha abismado para o irmão, que muito perturbado continua:
- Enquanto a você, o segundo na ordem do nascimento, toma meu lugar como primogênito. Se torna querido e apreciado pelo Criador, que estende a mão e multiplica suas riquezas e seu poder, enquanto eu permaneço aqui com as migalhas!!
- Irmão, eu apenas segui o curso de minha vida, e aceitei o que o Criador me ofereceu. Você também deveria, nada lhe falta, e sua vida é...
- Cale-se!! - interrompeu Caim
- Cansei de suas mentiras e de sua forma dissimulada de agir. Planejas suas ações quando não estou, e vivo sempre a sombra de meu irmão menor!! Devo pois aceitar isso?? - Indaga Caim
- Irmão, vamos retornar. Sentar em torno do fogo, comer algo, e tenho certeza que após isso, seu espirito se alegrará. - Abel estende a mão em direção ao irmão oferecendo-a como convite a proposta feita. Caim ignora a mão do irmão, se vira e ainda de costas fala:
- Venho hoje perante tua face, exigir meu direito de primogenitura, concedido a mim pelo próprio criador, o qual não me negarás!
- És o primogênito, jamais intentei ser como és, ou tomar teu direito de primogenitura! - Justifica Abel
- Tu mentes!!! Devo eu aceitar a usurpação de meus direitos dessa forma? Aceitas pois meus termos nessa petição? - Grita Caim
- Que tenho eu que tanto desejas? Que te fiz eu irmão, que vens perante minha face com tais acusações? Levanta-te pois, humilha-te perante o Criador, entra na presença do Soberano e Ele testificará minha inocência perante ti! - Com essas palavras ditas por Abel, toda a tristeza e desespero da alma de Caim, tornaram-se em ódio e rancor, e se enfureceu, lançando-se sobre Abel segurante firmemente o pescoço deste com as duas mãos. O impulso que deu, entretanto, foi mais do que esperava, desequilibrando Abel e fazendo-o cair sobre suas costas, enquanto ainda segurava firme o pescoço do irmão, estrangulando-o. Na queda, a cabeça de Abel bate com força em uma das pedras do altar próximo, abrindo-lhe um ferimento do topo da cabeça, a base da coluna cervical, o sangue jorrou com força, respingando no altar. Caim ao ver o sangue do irmão se desespera, suas mãos recuam do pescoço do irmão e tremem, Abel olha fixo na face do irmão:
- Que seja o criador testemunha entre mim e ti. Pois fui justo e o único crime que cometi foi ama-lo como o querido irmão que sempre foste... - a voz de Abel foi perdendo a força - ... O Criador me fará justiça... - Abel teve uma convulsão, com as contração dos músculos de Abel durante a convulsão, um jorro de sangue vazou de umas das arteiras abertas inundou a boca de Caim, que engasgou, seu sangue encharcava a terra as margens do altar, Caim desolado, tentava segurar o irmão, pensava no que fazer, pensou em clamar pelo Criador que salvasse a vida do seu irmão, lembrou então que Abel padecia pela vontade das suas mãos, e não existe como esconder tal fato do Criador, repentinamente Abel pára, sua respiração cessa, e ele morre nos braços de Caim, com os olhos abertos e fixos em seu rosto. Caim pode ver a vida deixando os olhos de seu irmão, e se lembrou da infância, quando justos corriam pela terra, conversavam juntos com o Criador, sonhavam em ter uma família, e viver todos os anos que pudessem viver. Estava acabado.
Caim sentiu um medo profundo, que percorria toda a coluna, da base até o pescoço, e lhe embrulhava o estomago, então sentiu uma angustia sem fim.
Cavou a terra com as mãos, até que com seus dedos descarnados pelo esforço, arrastou o corpo do irmão e o enterrou entre os ramos de trigo.
Fugiu, tão rápido quanto pôde, deixando para trás o sangue do seu irmão, mas não conseguiu deixar a culpa. Já era noite quando chegou a sua tenda, ignorou as indagações de sua esposa, se lavou e trocou suas roupas, orientou a mulher a se preparar pois iriam partir imediatamente.
Então ouviu o chamado primitivo, a voz do criador ressoava em seu coração e em sua cabeça:
- Caim!! Onde esta Abel teu irmão? - Perguntava a voz potente do Criador. Ao ouvir a voz do criador , a mulher de Caim desmaiou, este por sua vez, não podendo permanecer de pé, caiu sobre os joelhos, depois sobre o rosto. A voz do Criador era urgente mas não severa, era amorosa, mas extremamente poderosa, o próprio espaço tempo parecia se romper ante aquela estrondosa voz. O tempo parou, a existência parou, ali era apenas Caim e o Criador:
- Não sei; Sou eu guardião de meu irmão? - Respondeu Caim
- Que fizeste? Ainda sentes o gosto do sangue em tua boca. A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. E agora maldito és tu , que abriu a boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, esta não te dará mais sua força. Fugitivo e errante serás na terra.
- Que seja minha maldade maior que qualquer perdão. Eis que hoje me lanças da face da terra, onde padecerei fome e cede, serei fugitivo e de tua face me esconderei. E todo o que me encontrar errante, me mate, e que meu sangue corra sobre a terra, e meu destino seja o mesmo de meu irmão. - Bradou Caim
- Agora pois vos digo; Tua cede será eterna. Aplacada apenas pelo sangue que derramares, com ele te engasgarás, como te engasgaste do sangue de teu irmão. Aquele que te matar, sofra sete vezes a sua pena, pois não morrerás, e este será o sinal, para que não o firam, qualquer que o achar. - Ditas essas palavras, se apartou o Altíssimo, Caim sentiu um embrulho no estomago, uma cede incontrolável, e uma fome insaciável. Sentiu o gosto do sangue do seu irmão ainda em sua boca, e lhe pareceu bom. Assim vagou Caim pela face da terra, assim vagou pela face da terra o primeiro vampiro. Imortal, amaldiçoado, condenado a viver eternamente na escuridão em tormento, consumido pela culpa e pela dor. Até que se corrompeu completamente seu coração, e se entregou a selvageria."

" E tornou Adão a conhecer sua mulher; e ela teve um filho e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outra semente em lugar de Abel,; por quanto Caim o matou.
E a Sete também nasceu um filho; e chamou seu nome Enos; Então se começou a invocar o nome do Criador. (Gn. Cap 5, vs;25 e 26)"

A natureza é o mecanismo perfeito criado pelo próprio Criador, Caim criou um desequilíbrio no ecossistema.  Ele era um predador no topo da cadeia alimentar, todos eram sua presa, e não era presa de ninguém. A natureza não deixaria isso acontecer, e criaria o equilíbrio, uma raça caçadora da especie de Caim, para equilibrar o ecossistema para os humanos, que impotentes, acabariam extintos.
Meu nome é Samael, o veneno de Deus, da linhagem de Sete. Meus pais morreram em um ataque de vampiros, quando eu ainda era um garoto. Não tinha completado cinco anos e já encarava a morte. Fui adotado por uma família de pastores, quando completei a idade adequada, me tornei responsável por apascentar as ovelhas. minha função era simples; proteger o rebanho do ataque de lobos e outros predadores, me tornei hábil, e versátil, aos vinte anos já havia matado uma infinidade de predadores, que iam desde de lobos, leões e ursos. Mas havia um lobo em especifico que jamais consegui pegar. Ele era grande, do tamanho de um urso. Rápido como uma lince, e extremamente forte. A inteligencia daquele animal me intrigava, eu o encarei mais de uma vez, tinha os olhos vermelhos como sangue, e contrariando o instinto de qualquer outro lobo que já havia enfrentado, ele andava sozinho, e nunca atacava humanos, passando pelos pastores congelados pelo medo, como se eles fossem arvores, pegando as ovelhas que lhe conviessem e então ia embora.
Esse lobo parecia me observar desde que o encontrei atacando uma de minhas ovelhas, usei uma funda e o cajado. Lancei uma pedra do tamanho de uma laranja sobre ele, a pedra se despedaçou no dorso do animal, ele nem pareceu sentir, apenas desviou o olhar da refeição e me encarou. Corri então e usei o cajado sobre a cabeça do lobo, meu cajado de cedro do Líbano, curtido pelo fogo. Vi estarrecido o cajado se desfazer na cabeça do animal, sem surtir nenhum efeito sob ele... Estava de frente para ele, pensei então:
"estou morto, essa coisa vai me destroçar!" puxei minha faca de caça, e esperei pelo pior. O lobo pegou a ovelha nas mandíbulas e passou por mim como se eu não existisse e se foi. Fiquei meses intrigado com o animal, porque ele não havia me matado, seria mais comida para ele. A sensação de estar sendo observado era constante desde aquele dia.
Alguns anos se passaram, a vida seguia normalmente o seu curso.
Estava reunido com um grupo de pastores, em uma celebração. Era o casamento de um dos primos mais velhos com uma bela jovem do norte. Eu estava feliz, observava a movimentação, as danças e as bebidas. Os noivos seguiam desfilando pelo acampamento, os músicos tocavam seus instrumentos, todos pareciam imensamente felizes.
Então um homem chegou ao acampamento ao anoitecer. Usava uma grande toga de pele de Urso, e nada por baixo. Tinha garras nas mãos e nos pés expostos, olhar feroz.
O anfitrião foi receber o andarilho, que caminhava a distancia em direção ao campo central. Ele chegou antes, e ficou aguardando para dar boas vindas.
O andarilho começou a correr em direção ao ancião.
De repente, o andarilho percorreu o caminho que ainda restava em segundos e já estava em cima do ancião, com um pulo agarrou-lhe pelo pescoço levantando-o, antes do ancião tocar o chão, o andarilho cravou-lhe os dentes no pescoço, começando a drenar-lhe o sangue. O ancião estava morto antes mesmo de saber o que o havia atingido. Todo o acampamento silenciou ante aquela selvageria.
Então escutei gritos nas extremidades do campo, foi ai que percebi que haviam outros, e em um piscar de olhos haviam vários mortos, então começou o pandemônio, cada um corria para um lado, não havia mais ordem, uma criança estava sendo pisoteada, corri ao auxilio dela , segurei-a pelo tronco e a levantei, corri então para os limites do acampamento, na esperança de escapar para a floresta. Corri, dei tudo de mim no esforço, a criança em meus braços chorava. Cruzei o campo quando cheguei à floresta eles estavam lá:
- Que lindo, ele esta tentando salvar a garota que não para de gritar... - falou uma voz feminina, começou a andar em círculos ao meu redor, farejando.
- Ele tem sangue puro e bravo. O que acha Lameque? - perguntou uma loira alta, seus olhos eram Azuis reluzentes, como se uma fogueira queimasse neles, estava nua, e era extremamente linda.
- São apenas gado Ilda, comida. Nada mais. - respondeu o gigante com a pele de urso, que havia atacado o ancião.
- Vamos terminar com isso. -  falou outro mais afastado. Olhei ao redor, e fiz uma contagem, eram doze. era impossível prevalecer mesmo que fossem humanos normais. Puxei minha faca de caça e esperei, não partiria sem uma boa luta.
- Ele quer lutar... - falou Ilda,
- Quem se habilita? - completou
- Eu vou!! - falou um que acabava de sair da floresta. Ele era gigante, cabelos negros em trança, também estava nú.
- Rotgar, este é pequeno para seu apetite. Eu irei. - Falou uma outra figura. Essa parecia egípcia, pele negra e usava uma fina roupa de seda completamente manchada de sangue.
- Nefertari, você sempre luta, isso esta começando a me cansar. - Rasnou Rotgar
- Não seja tão pedante, quem quer impressionar com essas palavras bonitas? Sua asneira é redundante Rotgar, fato compensado por seu belo corpo e força. - Falou passando uma das garras no peito de Rotgar, que lhe mostrou os dentes. Ela sorriu, e se virou para mim, ela era linda, estonteante, fazia realmente jus ao nome que recebera " A mais perfeita", se não estivesse a beira da morte, poderia até admira-la. A garotinha continuava gritando incessantemente em meus braços, senti um embrulho no estômago, teríamos o mesmo destino dos outros no acampamento, não poderia me salvar, nem salva-la. aquilo me deixou triste, me deu forças para resistir enquanto pudesse. Pus a garotinha no chão, ela continuou agarrada na minha perna. Abaixei, e falei baixinho aos seus ouvidos;
- Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Não faça promessas que não pode cumprir garoto. - falou Nefertari sorrindo para a garota. Ilda em um piscar de olhos pegou a criança no colo e começou a embalar, como se quisesse coloca-la para dormir. Quando a garota se acalmou, ela mordeu suavemente o pescoço dela, drenou um pouco do sangue e passou para o seguinte, assim passou por todos, exceto Lameque, Rotgar e Nefertari, que pareciam mais interessados em mim. Ilda pôs a criança delicadamente em uma pedra elevada, ainda estava viva, mas não por muito tempo.
Vi impotente tudo aquilo, nada pude fazer...
- Vamos ver o quanto de coragem ainda lhe resta garoto. - falou Nefertari e se lançou sobre mim, sequer a vi chegando, apenas levantei a faca de caça por reflexo, que acabou cravada no peito de uma surpresa Nefertari, o movimento dela foi forte o suficiente para mesmo com a faca em seu peito, ainda me arrastar por alguns metros. Com esforço me mantive de pé. Os outros do bando ao observarem o ocorrido começaram a sorrir incontrolavelmente.
- O garoto esta dando trabalho Nefertari? - Perguntou Ilda, Lameque permanecia serio, era o único que parecia não esboçar nenhuma reação com tudo aquilo. Nefertari rugiu de raiva e segurou no meu pulso, senti meus ossos se esmigalhando enquanto ela colocava um pouco da sua descomunal força.
- Esta me constrangendo garoto. - Falou ela
- Vamos de novo!! - falou puxando a faca do peito e me dando um tapa na altura do ombro esquerdo, escutei os estalos os ossos quebrando, mas me mantive de pé. A dor erá algo familiar para mim, mesmo que não fosse, nada poderia ser feito, sem puder usar o braço direito e com os ossos do ombro esquerdo quebrados, não era difícil prever o que aconteceria em seguida. Ela correu novamente em minha direção, agora o fim chegou. Tinha pensado inúmeras vezes como seria meu fim, em batalha, de velhice, ceifado por uma doença... poderia aceitar qualquer um desses fins, mas morrer como presa indefesa era inaceitável, tinha que manter minha dignidade. Me ergui respirei fundo, fechei os olhos e aguardei pelo fim. Escutei então um rosnado alto e próximo. Abri os olhos a tempo de ver um lobo gigante capturar Nefertari em pleno ar, bem a minha frente, lembro dos olhos dela esbugalhados, um sangue negro saindo de sua boca. O corpo de Nefertari não resistiu a violência da mordida do lobo, e se partiu em três pedaços. O torax com os membros superiores ficaram na boca do lobo, a parte da cintura com uma das pernas ficou bem a minha frente quando se partiu, me dando um banho de vísceras. Outra perna foi parar bem aos pés de um estupefado Lameque. O lobo gigante lançou o resto do corpo de Nefertari no meio dos demais, foi imediatamente atacado. O que vi então foi épico.
O lobo destroçou tudo que ousou lhe atacar, com um simples movimento das patas dianteiras decapitou Rotgar, Enquanto mordia Ilda, Lameque tentou ataca-lo e perdeu um dos braços na empreitada. Ilda agora era um porrete de carne, usado para esmagar os demais.
- Em nome de Caim, que criatura é esta? - Indagou Lameque segurando a base do ombro, onde deveria começar seu braço.
- Fujam!!!!!!! Agora!!!! - ordenou Lameque. Três escaparam do lobo, um mutilado Lameque, e outros dois não em melhores condições.
Mesmo eu saindo vivo, não sobreviveria. Não haviam médicos, e com o braço direito e o ombro quebrados, eu não tinha chance de sobreviver. Seria melhor que o lobo acabasse com minha vida ali mesmo. O grande animal pareceu me entender, veio em minha direção, e mordeu delicadamente meu pescoço, senti seus dentes entrando em minha carne, no pescoço, no ombro e no peito, pensei então;
" Esta feito!"
Perdi a consciência em algum momento.
O intrigante, é que imaginei que aquele momento era o momento de minha morte, mas na verdade, foi quando nasci.
Acordei não sei quantos dias depois completamente curado, a garota também.
e assim nasceu Samael, o caçador de imortais.

sábado, 9 de abril de 2016

As crônicas do proscrito

Todos nós temos raízes em algum lugar. Por mais independente que seja, sempre existe um lugar que podemos chamar de lar. Geralmente onde nascemos, ou onde vivemos, em alguns casos, onde a morte acontece para alguns próximos... Quando existe alguém que perde essa essência, que não tem raízes, que não tem lar... esse individuo nada tem a perder... esse individuo é implacável... Se existem não apenas um, mas uma comunidade de indivíduos sem raízes, então temos o mecanismo de guerra perfeito, uma maquina de conquistar, uma célula destrutiva perfeita. Eu nasci no ano 7000 a.C., uma época não muito favorável para a raça humana, não era fácil sobreviver, os mais fortes viviam trinta e cinco anos, os normais não chegavam aos vinte e sete anos. Haviam muitos predadores, muitos seres e coisas que, na ocasião não sabia o que eram, mas caçavam humanos. Eu, não era diferente dos demais, aprendi cedo a me esconder e a lutar pela sobrevivência, no inicio, sempre protegido pelo meu pai, um caçador, que liderava nosso pequeno grupo de nômades, sua força e perspicácia nos mantinha vivos, ele executava brilhantemente seu trabalho, eu sobrevivi a difícil infância, me tornando um jovem forte, e com potencial para liderar nossa família, nossa pequena comunidade... Tudo corria bem, a normalidade era rotineira, mas nunca entediante, uma das coisas extremamente interessantes na existência, é a casualidade, que torna a vida imprevisível e frágil, a casualidade da existência é indefensável, não existe como prever ou como lutar contra, ou a favor dela.... e é de uma casualidade que falaremos agora, a casualidade que mudou minha existência no espaço tempo, até onde me encontro agora. Eu era novo não havia chegado aos vinte anos, não existiam oportunidades para amor, nem sabíamos da existência disso, todos os nossos esforços eram direcionados a sobrevivência, inclusive na procriação, não era por sentimento, na maioria das vezes por necessidade de perpetuar a especie,eramos cuidadosos e disciplinados.... Ainda assim o acaso nos encontrou, e uma peste atingiu nossa aldeia, inicialmente metade dos nossos caçadores morreram, uma morte horrível, seus pulmões paravam, seus fluidos corporais saiam por todos os orifícios do corpo, por fim, a morte chegava leve e doce, acolhida como uma mãe acolhe o filho, libertando do sofrimento. As mulheres que sobreviveram se tornaram estereis, e nosso povo padeceu, e conheceu a morte. Meu pai, tentando me poupar de toda a destruição causada pela peste, me aloca em um grupo de caça afastado, pois afinal, minhas habilidades seriam uteis em prover nossos estoques com carne para o inverno. Caçamos alguns pássaros e dois alces gigantes, desmembramos os animais, equipamos os cavalos para transportar a carga, sim, usávamos cavalos, fomos os primeiros. Nossas atividades chamaram a atenção de lobos, que nos rastreavam e perseguiam pelas matas congeladas, sentiam o cheiro do sangue dos alces, um confronto era inevitável. Nunca é bom confrontar lobos, são exímios caçadores e muito violentos, tinha comigo três dos melhores caçadores da aldeia, e ainda não achava uma boa ideia um confronto com lobos. Estavam comigo Helion, o sábio. Aldo, o forte. Luke, o belo, e eu Reziel, o Nobre. Fugimos durante três dias, até que nossos cavalos exaustos não deram mais nem um passo, pensei então, vai ser até bom um casaco de pele de lobo, esta muito frio, e só vai piorar. Os outros pareciam pensar o mesmo, e silenciosamente se preparavam para o confronto por vir, o silencio ara quase fúnebre, até os cavalos sentiam que algo ruim estava pra acontecer, e se agitaram, dispostos a andar novamente, mas agora já era tarde, havíamos montado acampamento, e particularmente estava cansado de fugir, além disso, estava realmente precisando de um casaco de peles novo, e a carne dos lobos proveria mantimento para os próximos dias. Que venha a luta. Acendemos uma fogueira, colocamos muita lenha para iluminar um raio maior, que demorou a pegar pois a madeira estava congelada, preparamos a as armas, o Aldo, as duas facas de caça, muito bem afiadas de bronze reluzente, Helion, com sua lança, com duas pontas afiadas em bronze forjado, o Luke com seu arco longo e suas flechas com ponta ferrosa, eu, usava karambits longos, feitos de liga de bronze, com algumas peças em prata. Todos tínhamos facas de caça longas, curtas e uma espada curta como armas secundarias, a espada curta era normalmente usada para defesa pessoal. Criamos uma proteção para limitar a entrada dos lobos no perímetro, empilhamos pedras e galhos maiores congelados, folhas, tudo que podemos encontrar, bloqueamos o equivalente a três vezes o raio da fogueira formando uma meia circunferência. Às nossas costas, uma parede íngreme, com apenas uma rota de fuga, que caso necessário, poderíamos defender com facilidade, os lobos não poderiam vir de cima, se viessem, morreriam na queda, nossa barreira de pedras e madeira ficou na altura dos ombros do nosso membro mais alto, Aldo tinha dois metros e dez centímetros, o que dava a nossa barreira uma altura que girava em torno dos um metro e oitenta centímetros, todos os lobos que tentassem pular essa barreira, seriam facilmente abatidos, deixando apenas uma pequena passagem, por onde a orda de lobos convergiria, desse ponto, poderíamos enfrenta-los com alguma igualdade. Nosso trabalho ficou muito bom, a barreira ficou firme, tínhamos uma boa estratégia, e uma rota de fuga, caso tudo desse errado. O sol estava se pondo quando terminamos; Abastecemos a fogueira, colocamos carne no fogo, e nos alimentamos e tomamos todo o estoque de cerveja quente. Enquanto esperávamos a noite chegar, aguardávamos o ataque eminente, os homens se agitaram: - Não sei o que Aziel tem na cabeça, com tantos experientes na aldeia, ele deixa esse fedelho no comando. - comentou Aldo - Esse fedelho, é o caçador mais letal da aldeia, e o melhor rastreador também. Além disso é o filho de Aziel. - rebateu Luke - ... mesmo que não fosse, ele é habilidoso como nenhum outro na aldeia. Eu já caçava nessas florestas quando todos vocês ainda se penduravam no peito das suas mães, e nunca vi habilidades como as dele, nunca vi ninguém conseguir fugir de lobos. Eu confio no garoto. Alias, vocês deveriam estar focados do que esta por vir. - acrescentou Helion, pondo fim a discussão. Eu estava longe, me afastei pois conseguia ouvir os lobos chegando, e sabia que em quinze minutos nos alcançariam. Eu escutei todo o diálogo dos meus homens, entendia a preocupação deles, mas não parecia um garoto, aos dezoito anos e já tinha uma constituição avantajada, já era um dos maiores da aldeia, com um metro e noventa e seis, e minhas habilidades sempre foram diferentes desde a minha infância. Conseguia escutar os pássaros cantando do outro lado do vale, e ouvir o vento balançando as folhas na copa das arvores. Eles não tinham chance. Não sei porquê, meu pai não falava muito das minhas habilidades, nunca falou da minha mãe, apenas que ela não poderia mais estar comigo, mas que ela era mulher marcante e diferente, e que eu algum dia entenderia. Meu pai, insistia em dizer que eu jamais tinha alcançado todo meu potencial, mas eu me sentia tão normal, tão ordinário, eu não era o mais forte, nem o mais inteligente... talvez o Aldo estivesse correto, eu era apenas um garoto com uma audição e um olfato privilegiados, mas isso não me faria desistir, apenas me tornava mais determinado. Ainda era muito novo, tinha muito o que evoluir... meu pensamento foi cortado por uma sensação, olhei para o cume do paredão as nossas costas, e vi um par de olhos em um vermelho vibrantes nos observando, quando meu olhar pousou no brilho vermelho dos olhos, eles se fixaram em mim, meu instinto ficou em alerta máximo, senti um frio subindo da base da minha coluna até a nuca, meus músculos se contraíram, senti uma urgência infinda para correr, fugir, senti as minimas terminações nervosas de meu corpo me dizendo que eu estava em perigo, que tinha que sair dali, o grande lobo desviou os olhos de mim, e olhou alem da nossa barreira, acompanhei o olhar do lobo monstro, do urso, ou seja lá o que fosse aquela coisa, nas arvores bem a frente de nossa barreira, e la encontrei pelo menos mais seis pares de olhos azuis reluzentes; - Para a caverna!!!!! - gritei com toda a força que pude para os meus homens, já com os karambites nas mãos, enquanto subia a pequena elevação. Nesse momento todos escutamos um rosnado alto, e vimos o lobo pular do alto do paredão e cair de pé dentro de nossa barreira, derrapando um pouco por inercia do movimento... - Em nome de Kadath, o que diabos é aquilo?? - gritou Aldo Os lobos pularam por sobre nossa barreira sem dificuldade, eram gigantes, do tamanho de búfalos, alguns maiores, corriam em nossa direção. Luke armou o arco e disparou uma flecha certeira em um dos lobos sobre a barreira, a flecha se despedaçou entre os olhos do lobo sem causar nenhum dano. - São demônios vindos direto do Murdock, vamos todos morrer... - bradou Luke, soltando o arco e caindo de joelhos; - Levanta garoto, cale a boca e lute até não ter mais uma mão para segurar a espada. - ordenou Helion, puxando Luke pelos ombros tentando coloca-lo de pé. Nesse momento alcancei a elevação onde estava Luke, estava correndo em direção a entrada da gruta, não conseguia enxergar o que acontecia de onde havia vindo, mas sabia que não estava nada bom, escutava apenas os passos secos de algo, e sentia um cheiro forte de couro e sangue fresco. Helion me chutou no peito, me fazendo retroceder tudo o que havia avançado desde que vi o lobo dos olhos vermelhos, por um instante me perguntei porque Helion havia feito aquilo, por que afastar tão veementemente um aliado, um amigo? Ainda pensava nos motivos enquanto caía pela encosta, quando um lobo castanho gigante pulou sobre eles, Helion tentou cravar a espada curta no pescoço do lobo, em uma situação normal, isso mataria instantaneamente o lobo, que sem a conexão nervosa da espinha, certamente se rompida com o golpe de Helion, sucumbiria com poucos espasmos, mas a espada cravou no pescoço do lobo, da mesma forma quando golpeamos com uma espada o tronco grosso de uma árvore, a lamina trava no interior da madeira... o lobo não pareceu sentir o ferimento, continuando o movimento de mordida. Pude ouvir ao mesmo tempo os estalos dos ossos do ombro de Luke se quebrando entre os dentes do lobo, o animal tentara morder o pescoço, mas em um movimento involuntário, Luke levantou o ombro até que esse encostasse na orelha, e trincou os dentes esperando pela dor vindoura, e o grito de Aldo, que acabava de sucumbir ante dois lobos cinzentos gigantes que o alcançaram na entrada da gruta. O tempo parou por um momento, pude ver os cavalos destroçados, enquanto três lobos enormes se alimentavam da carne dos cavalos e dos alces, vi o lobo negro gigante correndo em minha direção, ele parecia apenas observar enquanto os outros de sua matilha se alimentavam e destruíam tudo o que podiam. Percebi o movimento de mordida do animal, sabia que se fosse em meu pescoço seria o fim, então exatamente como Luke, levantei o ombro bem a tempo de sentir cada centímetro dos dentes do lobo se cravarem sobre o meu ombro pelo lado direito, a mordida se estendeu até meu peito, uma dor aguda paralisou o meu corpo, uma voz falou: - Calma garoto, já vai acabar! Me desculpe, mas estamos famintos, e não tem nada descente para comer nesse inferno de gelo!! - Olhei sob meu ombro para o olho do lobo, ele me olhava... vi inteligencia e consciência naquele olhar, sabia que ele ceifaria a minha vida, como um ceifeiro não polpa os grossos ramos de trigo no campo. Não havia mais o que fazer, tinha caído em uma letargia que era quase como a de um sonho, que você vive, e não consegue discernir se aquilo é verdade ou fantasia. Então escutei os gemidos de Luke, e olhei para Helion, eles estavam sendo comidos vivos, havia um grande buraco no abdome de Helion, calculei que lhe faltavam um rim, um pedaço da bexiga, e boa parte dos intestinos, Helion me olhava como que pedindo socorro enquanto trincava os dentes de dor, mas não emitia nenhum ruido. Escutava os gemidos de Luke e a gritaria de Aldo, mas não os conseguia ver. A letargia passou e senti a dor dilacerante quando o gigante negro arrancou a carne do meu ombro, me admirei do braço ter ficado em se lugar... Enquanto sentia o sangue escorrendo sob meu corpo e encharcando o que restava de minhas roupas de pele velhas, toda a dor e o desespero que eu sentia foram dando lugar a uma fúria incontrolável, meu sangue esquentou e ferveu dentro de minhas veias, a tênue linha que separava inconsciência da plena certeza da realidade se rompeu em um grito, meio rosnado meio gutural, não saberia descrever o que foi aquilo, mas foi libertador, meu corpo não mais estava paralisado, sentia minhas mãos serradas e prontas para serem usadas, olhei para o lobo gigante acima de mim, decidi que não o queria mais ali, girei a perna direita sobre a esquerda para dar impulso ao movimento, foi mais do que esperava, senti o pé direito se fixar no solo congelado, meu corpo estava suspenso o suficiente para empurrar o solo com o braço direito, que estava dilacerado, mas ainda me servia bem, no giro dei um forte soco na parte superior da pata esquerda do lobo, esperava que fosse o suficiente para afasta-lo, apesar de não ter muita esperança disso, empreguei toda a força que pude, o soco saiu deslocado e atingi o enorme lobo com a região anterior da mão fechada, como um martelo. Vi surpreso a o dorso do grande animal ceder a minha mão, os ossos do ombro do animal quebraram, a força do golpe, foi suficiente para lançar o animal sobre a barreira e derruba-la, derrubando também duas arvores medias próximas a encosta, o grande lobo rosnou, o que fez todos os outros pararem de se alimentar e pularem para o centro da clareira, entre eu e o grande lobo negro. Uma especie de aura branca brotava das minhas mãos, e de repente enxergava tudo, nada escapava ao meu olhar, vi Aldo destroçado na entrada da caverna, mas ainda vivo e xingando muito os lobos, Helion ainda olhava para mim, e Luke estava desmaiado, com múltiplas fraturas no ombro, e uma das pernas descarnadas, mais ainda respirando, conseguia ouvir os seus batimentos cardíacos. Prognostico: Todos vivos, ainda. O que estava em pior estado era Helion, que ainda me olhava, Luke desmaiado, Aldo tentava se por de pé, mas seu joelho estava virado para o lado errado, e lhe faltava muita carne da outra perna e do braço, ficou sentado, ainda xingando; - Esta esperando um convite??? Mata esses desgraçados... Olha só meu braço... e minha perna.... como você pretende resolver isso? - Rasnou Aldo O lobo negro reapareceu de um pulo: - Um imortal? Neferim, talvez? Não, muito mais poderoso. - O lobo começou a assumir uma forma humana gigante, com garras e presas gigantes, a forma humanoide era quase tão grotesca quanto a foma original do lobo. Começou a girar o ombro; - Você me pegou de jeito garoto, vai demorar horas para curar completamente. Quem é você? - Insistiu o Lobo. Ataquei os lobos, dei impulso com o pé direito em movimento de corrida, e no segundo seguinte havia cruzado toda a extensão da clareira e estava bem em frente a um lobo castanho gigante, no ultimo momento ele me viu, mas já tarde, lancei minha mão cerrada em direção a cabeça do grande lobo, ele se moveu para baixo, livrou a cabeça, mas deixou um dorso gigante como alvo secundário. Acertei o ataque, vi estarrecido minha mão entrar no corpo do gigante animal como uma faça de bronze quente entra em uma peça de manteiga. Nesse momento escutei o coração do lobo batendo, estranhamente escutei o som e sabia com precisão, exatamente onde estavam os órgãos do lobo, quase como se os enxergasse, Mais tarde o humano inventou o radar, e pude explicar com alguma precisão como funcionava para mim. Não detive o movimento, redirecionei a força em direção ao coração da aberração, o envolvi com minha mão, era grande e forte, insistia em manter a criatura viva, então o arranquei do corpo do animal, ao extrair o órgão, com a outra mão levantei o corpo inerte da criatura pelo pescoço, enquanto todos os lobos viam estarrecidos o grande corpo encolher e voltar a forma de um homem de estatura média, uma força estranha fluía do meu corpo para minhas mãos, e a aura que as envolvia, incendiou o corpo e o coração ainda pulsando do grande lobo castanho, e o consumiu, até que de minhas mãos caíram apenas um pó amarronzado. - Recuar!!!! - gritou o lobo Negro. - Porque vamos recuar? estamos em maior numero e somos mais fortes. - falou um lobo castanho no meio da matilha. - Não seja ridículo Azur, ele vai matar todos!! - falou novamente o negro - Mas Samael... - Obedeça!! - os lobos deram as costas e sumiram na floresta. sobre eles pai resolveu consultar o sacerdote, que o orientou a nos abandonar, pois estávamos amaldiçoados. Assim foi.

sábado, 4 de setembro de 2010

Desesperança

     Sonhei um sonho com o tempo ja acabado, quando a esperança era bem mais que a ilusão de tempos melhores, e viver, valia mais a pena do que existir.
     Sonhei que esse amor jamais morreria, sonhei que Deus perdoaria os meus erros, sonhei que você retornaria algum dia, e que seriamos mais que memórias, mais que reflexos de minha vontade. Mas as dificuldades sempre vem, com uma voz tão suave que nem percebemos sua presença até que ela destroça nossas certezas, e nos fazem sofrer, desmoronando o mundo em que vivemos e nos mostrando a mais simples e dura realidade de que somos insignificantes, ante o que a vida tem a nos oferecer.
     A vida matou o sonho que eu sonhei, tranformou-os em vergonha, em nada alem de desejos e tristezas, e ainda assim, sonhei que você vinha até mim, e viviamos anos e anos juntos,e a perfeição era marcante enquanto estava com você, e seu olhar me acalentava com seu sorriso me aquecendo.
     Mas existem sonhos que jamais acontecem como tempestades que não podemos prever. Eu costumava sonhar que minha vida seria tão diferente do que ela tem sido, e agora  a vida matou o sonho que eu sonhei.
     Agora todos saberão, e ninguem dormirá até que minhas lagrimas se esgotem e que meus sonhos estejam completamente mortos, e que o meu mas profundo seguedo permaneça guardado dentro de mim, pois ninguem jamais saberá o meu nome, apenas escutarão o meu pranto, e saberão que existe dor...
     Não...
     Não...
    Desaparecerei em meio a escuridão da noite, e não verei estrelas no céu do meu mundo ja sem a lua para ilumina-lo.
    Na alvorada vencerei! Vencerei ou serei vencido!
    Sim, vencerei ao alvorecer! Estou certo disto, e minha certeza convicta me fortalece para continuar lutando a batalha que ja perdi a muito tempo atrás, e que agora ei de vencê-la.
    Vencerei ao sentir o calor do sol em minha pele, e poder em sua luz enxergar o caminho outrora difícil.
    Sem sonhos, sem esperanças, sem absolutamente nada para me manter de pé...
Mas mesmo assim vencerei ao alvorecer e serei livre.
    Tua lembrança em minha memória é o que mais dificulta minha caminhada, me faz parar no tempo e chorar a sua perda, no entanto, a mesma dor que ma matou um dia, me tornou forte. Sim, me matou, hoje sou apenas um morto-vivo, esperando o calor de um novo amor, e descobrindo a cada dia que a vida é dura, mas que eu posso ser mais dura que ela!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Profundeza

"De olhos fechados, silencioso, estático, sereno... Nada sentia, se não a fúria crescente em minha inconsciência, o sangue esquentando em minhas veias, sabia o que acontecia, mas meu corpo não respondia aos meus comandos, até que a tênue linha que separava a consciência da inconsciência se rompeu no momento em que abri os olhos e gritei o grito doloroso e incontrolável do ódio. Senti minha própria ira fluir pelo meu corpo, esquentando minha pele, me tornando mais forte, me tornando invulnerável queimando incontrolavelmente todo o ar ao meu redor;
todos os meus pensamentos se uniram em um único objetivo, então, não pude mais suportar e libertei o monstro que existia dentro de mim, ele sorriu ao assumir o controle.
Descobri exasperado que o monstro  controlado por tanto tempo, e que tanto temia, era eu mesmo, minha verdadeira natureza, minha real forma e nela eu era indestrutível, seria forte, e era indescritivelmente livre.
Gostei do que sentia, gostei da força que fluía de meus poros, não sabia de onde ela vinha, mas sabia que sua fonte era inesgotável. Libertei-me das últimas amarras, que me mantinham estático e controlado, um mero e indefeso observador...
Como me senti?
Como me senti, meu caro?
Vergonhosamente me senti bem, me senti livre, uma liberdade permanente e duradoura, mas a infinita tristeza e o ódio que sentia não diminuíam, apenas eram aplacados quando fluíam, continuavam crescentes mas controlados, enquanto eu deixava-os fluir.
Perdi a consciência em algum momento, e quando torneia abrir os olhos, tudo ao meu redor queimava e jazia destruído.
Meu DEUS, o que eu fiz?!?!?"