terça-feira, 12 de abril de 2016

Samael, o caçador de imortais

"Foi pois Caim perante Abel e disse-lhe:
- Irmão, preciso falar-lhe.
- Fala pois. Que não exista cerimônias entre mim e ti, pois somos do mesmo sangue e da mesma carne. - Responde Abel
- Meu coração pesa irmão, e se entristece. Já não sei como agir ante minha angustia! - continua Caim - Por que se abate teu coração? Não tem pois o Criador provido tudo o que precisas, e suprido com sobra todas as tuas necessidades? Pois a terra se abre para ti, e de seu fruto te sustenta, tu e tua família, e não padeces nem da ausência de pão, tão pouco de água, ou mesmo de mosto. - Respondeu Abel, observando o semblante caído do amado irmão.
- Vem comigo ao campo, e lá falaremos, pois aqui não falamos privativamente. - sugeriu Caim
- Que temes pois de meus filhos e de minha esposa irmão? - indaga Abel
- Nada tenho a temer perante eles, mas temo que o assunto que tenho a tratar, possa diminui-me aos olhos de tua prole e de tua esposa, algo que de maneira nenhuma admito que aconteça. Desta forma, se não podes sair agora e caminhar com teu irmão, retornarei amanhã ao por do sol, caminharemos, e te falarei e tu me ouvirás. - Caim sugere atormentado
- Seja feito pois, conforme a tua vontade irmão. Amanhã ao por do sol, te esperarei no campo, onde trouxeste os frutos da terra à presença do Criador. Lá falaremos. - Abel fala ao irmão segurando-lhe a cabeça entre as mãos. Caim  despede-se, e deixa Abel. Seu coração permanece atormentado. Não retorna a sua habitação naquela noite, e dorme no campo seguro de que nada o ameaçava. Na mesma noite, teve Caim um sonho. Nele uma serpente e uma ave lhe falavam:
- O Criador te abandonou Caim, não recebeu as tuas oferendas. Sendo você o primogênito... De certo, caíste em desgraça! - Falou a serpente
- Por que pois, aceitaria o Criador as oferendas de teu irmão mais novo, Abel, e não as tuas? - Sugeriu a ave
- Tu és o primogênito dos primeiros, teus pais viram a face do Criador, e comeram do jardim d'Ele, privilégio negado a todos os outros também por Ele criados . - Continuou a serpente. Caim tentava falar e não conseguia, como se estivesse meio dormindo, meio acordado, tomado por uma letargia infinda, tentando desesperadamente acordar.
- Caim, seu tolo, você tem nas suas mãos o poder de mudar isso!! Exija ante a face de seu irmão teu direito de primogênito concedido a você pelo próprio Criador. - a serpente novamente falava, bem mais próxima de Caim.
- Quem é você? - Conseguiu gemer Caim
- Ele fala...! - comentou a ave
- Abel tomou para si, a mais bela esposa, que por direito seria tua. Com suas oferendas de sangue, tomou teu lugar ante o Criador, e Este, o abençoou com as riquezas que deveriam ser tuas. - falou a ave
- Quem é você? - insistiu Caim em meio a sua dor
- Não é de muita serventia ele falar...! Ele apenas fala isso...! Quer saber quem somos? - falou a serpente sorrindo
- Eu tenho diversos nomes, agora, você pode chamar-me de Quetzalcóatl, o conselheiro.- Falaram a serpente e a ave em uníssono. A serpente atacou a ave e a devorou, quando apenas a cabeça da ave ainda estava visível, esta assumiu o lugar da cabeça da serpente, e duas grandes asas de ave brotaram do corpo alongado da serpente, como se um animal tivesse se fundido ao outro. Do bico da ave cresceram dois grandes dentes de serpente e uma língua partida. A ave-serpente levantou vôo e falou antes de desaparecer:
- Pense nisso, filho de Adão.
Caim abriu os olhos alarmado, faltavam poucas horas para o pôr do sol, banhou-se então, vestiu suas roupas de pele, e partiu ao encontro do irmão.
Uma tristeza profunda o preenchia por inteiro, ele não se alimentou, não tomou água nem esteve com sua esposa.
Ao chegar, encontrou Abel sentado sobre uma pedra próxima ao altar.
- Fala-me, o que te aflige irmão? - Pergunta Abel
- O Criador não recebe mais minhas oferendas, Ele me abandonou à minha própria sorte, e agora cai em desgraça. - Fala Caim;
Abel, ao ouvir-lhe faltaram-no as palavras, e ele apenas olha abismado para o irmão, que muito perturbado continua:
- Enquanto a você, o segundo na ordem do nascimento, toma meu lugar como primogênito. Se torna querido e apreciado pelo Criador, que estende a mão e multiplica suas riquezas e seu poder, enquanto eu permaneço aqui com as migalhas!!
- Irmão, eu apenas segui o curso de minha vida, e aceitei o que o Criador me ofereceu. Você também deveria, nada lhe falta, e sua vida é...
- Cale-se!! - interrompeu Caim
- Cansei de suas mentiras e de sua forma dissimulada de agir. Planejas suas ações quando não estou, e vivo sempre a sombra de meu irmão menor!! Devo pois aceitar isso?? - Indaga Caim
- Irmão, vamos retornar. Sentar em torno do fogo, comer algo, e tenho certeza que após isso, seu espirito se alegrará. - Abel estende a mão em direção ao irmão oferecendo-a como convite a proposta feita. Caim ignora a mão do irmão, se vira e ainda de costas fala:
- Venho hoje perante tua face, exigir meu direito de primogenitura, concedido a mim pelo próprio criador, o qual não me negarás!
- És o primogênito, jamais intentei ser como és, ou tomar teu direito de primogenitura! - Justifica Abel
- Tu mentes!!! Devo eu aceitar a usurpação de meus direitos dessa forma? Aceitas pois meus termos nessa petição? - Grita Caim
- Que tenho eu que tanto desejas? Que te fiz eu irmão, que vens perante minha face com tais acusações? Levanta-te pois, humilha-te perante o Criador, entra na presença do Soberano e Ele testificará minha inocência perante ti! - Com essas palavras ditas por Abel, toda a tristeza e desespero da alma de Caim, tornaram-se em ódio e rancor, e se enfureceu, lançando-se sobre Abel segurante firmemente o pescoço deste com as duas mãos. O impulso que deu, entretanto, foi mais do que esperava, desequilibrando Abel e fazendo-o cair sobre suas costas, enquanto ainda segurava firme o pescoço do irmão, estrangulando-o. Na queda, a cabeça de Abel bate com força em uma das pedras do altar próximo, abrindo-lhe um ferimento do topo da cabeça, a base da coluna cervical, o sangue jorrou com força, respingando no altar. Caim ao ver o sangue do irmão se desespera, suas mãos recuam do pescoço do irmão e tremem, Abel olha fixo na face do irmão:
- Que seja o criador testemunha entre mim e ti. Pois fui justo e o único crime que cometi foi ama-lo como o querido irmão que sempre foste... - a voz de Abel foi perdendo a força - ... O Criador me fará justiça... - Abel teve uma convulsão, com as contração dos músculos de Abel durante a convulsão, um jorro de sangue vazou de umas das arteiras abertas inundou a boca de Caim, que engasgou, seu sangue encharcava a terra as margens do altar, Caim desolado, tentava segurar o irmão, pensava no que fazer, pensou em clamar pelo Criador que salvasse a vida do seu irmão, lembrou então que Abel padecia pela vontade das suas mãos, e não existe como esconder tal fato do Criador, repentinamente Abel pára, sua respiração cessa, e ele morre nos braços de Caim, com os olhos abertos e fixos em seu rosto. Caim pode ver a vida deixando os olhos de seu irmão, e se lembrou da infância, quando justos corriam pela terra, conversavam juntos com o Criador, sonhavam em ter uma família, e viver todos os anos que pudessem viver. Estava acabado.
Caim sentiu um medo profundo, que percorria toda a coluna, da base até o pescoço, e lhe embrulhava o estomago, então sentiu uma angustia sem fim.
Cavou a terra com as mãos, até que com seus dedos descarnados pelo esforço, arrastou o corpo do irmão e o enterrou entre os ramos de trigo.
Fugiu, tão rápido quanto pôde, deixando para trás o sangue do seu irmão, mas não conseguiu deixar a culpa. Já era noite quando chegou a sua tenda, ignorou as indagações de sua esposa, se lavou e trocou suas roupas, orientou a mulher a se preparar pois iriam partir imediatamente.
Então ouviu o chamado primitivo, a voz do criador ressoava em seu coração e em sua cabeça:
- Caim!! Onde esta Abel teu irmão? - Perguntava a voz potente do Criador. Ao ouvir a voz do criador , a mulher de Caim desmaiou, este por sua vez, não podendo permanecer de pé, caiu sobre os joelhos, depois sobre o rosto. A voz do Criador era urgente mas não severa, era amorosa, mas extremamente poderosa, o próprio espaço tempo parecia se romper ante aquela estrondosa voz. O tempo parou, a existência parou, ali era apenas Caim e o Criador:
- Não sei; Sou eu guardião de meu irmão? - Respondeu Caim
- Que fizeste? Ainda sentes o gosto do sangue em tua boca. A voz do sangue do teu irmão clama a mim desde a terra. E agora maldito és tu , que abriu a boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, esta não te dará mais sua força. Fugitivo e errante serás na terra.
- Que seja minha maldade maior que qualquer perdão. Eis que hoje me lanças da face da terra, onde padecerei fome e cede, serei fugitivo e de tua face me esconderei. E todo o que me encontrar errante, me mate, e que meu sangue corra sobre a terra, e meu destino seja o mesmo de meu irmão. - Bradou Caim
- Agora pois vos digo; Tua cede será eterna. Aplacada apenas pelo sangue que derramares, com ele te engasgarás, como te engasgaste do sangue de teu irmão. Aquele que te matar, sofra sete vezes a sua pena, pois não morrerás, e este será o sinal, para que não o firam, qualquer que o achar. - Ditas essas palavras, se apartou o Altíssimo, Caim sentiu um embrulho no estomago, uma cede incontrolável, e uma fome insaciável. Sentiu o gosto do sangue do seu irmão ainda em sua boca, e lhe pareceu bom. Assim vagou Caim pela face da terra, assim vagou pela face da terra o primeiro vampiro. Imortal, amaldiçoado, condenado a viver eternamente na escuridão em tormento, consumido pela culpa e pela dor. Até que se corrompeu completamente seu coração, e se entregou a selvageria."

" E tornou Adão a conhecer sua mulher; e ela teve um filho e chamou o seu nome Sete; porque, disse ela, Deus me deu outra semente em lugar de Abel,; por quanto Caim o matou.
E a Sete também nasceu um filho; e chamou seu nome Enos; Então se começou a invocar o nome do Criador. (Gn. Cap 5, vs;25 e 26)"

A natureza é o mecanismo perfeito criado pelo próprio Criador, Caim criou um desequilíbrio no ecossistema.  Ele era um predador no topo da cadeia alimentar, todos eram sua presa, e não era presa de ninguém. A natureza não deixaria isso acontecer, e criaria o equilíbrio, uma raça caçadora da especie de Caim, para equilibrar o ecossistema para os humanos, que impotentes, acabariam extintos.
Meu nome é Samael, o veneno de Deus, da linhagem de Sete. Meus pais morreram em um ataque de vampiros, quando eu ainda era um garoto. Não tinha completado cinco anos e já encarava a morte. Fui adotado por uma família de pastores, quando completei a idade adequada, me tornei responsável por apascentar as ovelhas. minha função era simples; proteger o rebanho do ataque de lobos e outros predadores, me tornei hábil, e versátil, aos vinte anos já havia matado uma infinidade de predadores, que iam desde de lobos, leões e ursos. Mas havia um lobo em especifico que jamais consegui pegar. Ele era grande, do tamanho de um urso. Rápido como uma lince, e extremamente forte. A inteligencia daquele animal me intrigava, eu o encarei mais de uma vez, tinha os olhos vermelhos como sangue, e contrariando o instinto de qualquer outro lobo que já havia enfrentado, ele andava sozinho, e nunca atacava humanos, passando pelos pastores congelados pelo medo, como se eles fossem arvores, pegando as ovelhas que lhe conviessem e então ia embora.
Esse lobo parecia me observar desde que o encontrei atacando uma de minhas ovelhas, usei uma funda e o cajado. Lancei uma pedra do tamanho de uma laranja sobre ele, a pedra se despedaçou no dorso do animal, ele nem pareceu sentir, apenas desviou o olhar da refeição e me encarou. Corri então e usei o cajado sobre a cabeça do lobo, meu cajado de cedro do Líbano, curtido pelo fogo. Vi estarrecido o cajado se desfazer na cabeça do animal, sem surtir nenhum efeito sob ele... Estava de frente para ele, pensei então:
"estou morto, essa coisa vai me destroçar!" puxei minha faca de caça, e esperei pelo pior. O lobo pegou a ovelha nas mandíbulas e passou por mim como se eu não existisse e se foi. Fiquei meses intrigado com o animal, porque ele não havia me matado, seria mais comida para ele. A sensação de estar sendo observado era constante desde aquele dia.
Alguns anos se passaram, a vida seguia normalmente o seu curso.
Estava reunido com um grupo de pastores, em uma celebração. Era o casamento de um dos primos mais velhos com uma bela jovem do norte. Eu estava feliz, observava a movimentação, as danças e as bebidas. Os noivos seguiam desfilando pelo acampamento, os músicos tocavam seus instrumentos, todos pareciam imensamente felizes.
Então um homem chegou ao acampamento ao anoitecer. Usava uma grande toga de pele de Urso, e nada por baixo. Tinha garras nas mãos e nos pés expostos, olhar feroz.
O anfitrião foi receber o andarilho, que caminhava a distancia em direção ao campo central. Ele chegou antes, e ficou aguardando para dar boas vindas.
O andarilho começou a correr em direção ao ancião.
De repente, o andarilho percorreu o caminho que ainda restava em segundos e já estava em cima do ancião, com um pulo agarrou-lhe pelo pescoço levantando-o, antes do ancião tocar o chão, o andarilho cravou-lhe os dentes no pescoço, começando a drenar-lhe o sangue. O ancião estava morto antes mesmo de saber o que o havia atingido. Todo o acampamento silenciou ante aquela selvageria.
Então escutei gritos nas extremidades do campo, foi ai que percebi que haviam outros, e em um piscar de olhos haviam vários mortos, então começou o pandemônio, cada um corria para um lado, não havia mais ordem, uma criança estava sendo pisoteada, corri ao auxilio dela , segurei-a pelo tronco e a levantei, corri então para os limites do acampamento, na esperança de escapar para a floresta. Corri, dei tudo de mim no esforço, a criança em meus braços chorava. Cruzei o campo quando cheguei à floresta eles estavam lá:
- Que lindo, ele esta tentando salvar a garota que não para de gritar... - falou uma voz feminina, começou a andar em círculos ao meu redor, farejando.
- Ele tem sangue puro e bravo. O que acha Lameque? - perguntou uma loira alta, seus olhos eram Azuis reluzentes, como se uma fogueira queimasse neles, estava nua, e era extremamente linda.
- São apenas gado Ilda, comida. Nada mais. - respondeu o gigante com a pele de urso, que havia atacado o ancião.
- Vamos terminar com isso. -  falou outro mais afastado. Olhei ao redor, e fiz uma contagem, eram doze. era impossível prevalecer mesmo que fossem humanos normais. Puxei minha faca de caça e esperei, não partiria sem uma boa luta.
- Ele quer lutar... - falou Ilda,
- Quem se habilita? - completou
- Eu vou!! - falou um que acabava de sair da floresta. Ele era gigante, cabelos negros em trança, também estava nú.
- Rotgar, este é pequeno para seu apetite. Eu irei. - Falou uma outra figura. Essa parecia egípcia, pele negra e usava uma fina roupa de seda completamente manchada de sangue.
- Nefertari, você sempre luta, isso esta começando a me cansar. - Rasnou Rotgar
- Não seja tão pedante, quem quer impressionar com essas palavras bonitas? Sua asneira é redundante Rotgar, fato compensado por seu belo corpo e força. - Falou passando uma das garras no peito de Rotgar, que lhe mostrou os dentes. Ela sorriu, e se virou para mim, ela era linda, estonteante, fazia realmente jus ao nome que recebera " A mais perfeita", se não estivesse a beira da morte, poderia até admira-la. A garotinha continuava gritando incessantemente em meus braços, senti um embrulho no estômago, teríamos o mesmo destino dos outros no acampamento, não poderia me salvar, nem salva-la. aquilo me deixou triste, me deu forças para resistir enquanto pudesse. Pus a garotinha no chão, ela continuou agarrada na minha perna. Abaixei, e falei baixinho aos seus ouvidos;
- Vai ficar tudo bem, eu prometo.
- Não faça promessas que não pode cumprir garoto. - falou Nefertari sorrindo para a garota. Ilda em um piscar de olhos pegou a criança no colo e começou a embalar, como se quisesse coloca-la para dormir. Quando a garota se acalmou, ela mordeu suavemente o pescoço dela, drenou um pouco do sangue e passou para o seguinte, assim passou por todos, exceto Lameque, Rotgar e Nefertari, que pareciam mais interessados em mim. Ilda pôs a criança delicadamente em uma pedra elevada, ainda estava viva, mas não por muito tempo.
Vi impotente tudo aquilo, nada pude fazer...
- Vamos ver o quanto de coragem ainda lhe resta garoto. - falou Nefertari e se lançou sobre mim, sequer a vi chegando, apenas levantei a faca de caça por reflexo, que acabou cravada no peito de uma surpresa Nefertari, o movimento dela foi forte o suficiente para mesmo com a faca em seu peito, ainda me arrastar por alguns metros. Com esforço me mantive de pé. Os outros do bando ao observarem o ocorrido começaram a sorrir incontrolavelmente.
- O garoto esta dando trabalho Nefertari? - Perguntou Ilda, Lameque permanecia serio, era o único que parecia não esboçar nenhuma reação com tudo aquilo. Nefertari rugiu de raiva e segurou no meu pulso, senti meus ossos se esmigalhando enquanto ela colocava um pouco da sua descomunal força.
- Esta me constrangendo garoto. - Falou ela
- Vamos de novo!! - falou puxando a faca do peito e me dando um tapa na altura do ombro esquerdo, escutei os estalos os ossos quebrando, mas me mantive de pé. A dor erá algo familiar para mim, mesmo que não fosse, nada poderia ser feito, sem puder usar o braço direito e com os ossos do ombro esquerdo quebrados, não era difícil prever o que aconteceria em seguida. Ela correu novamente em minha direção, agora o fim chegou. Tinha pensado inúmeras vezes como seria meu fim, em batalha, de velhice, ceifado por uma doença... poderia aceitar qualquer um desses fins, mas morrer como presa indefesa era inaceitável, tinha que manter minha dignidade. Me ergui respirei fundo, fechei os olhos e aguardei pelo fim. Escutei então um rosnado alto e próximo. Abri os olhos a tempo de ver um lobo gigante capturar Nefertari em pleno ar, bem a minha frente, lembro dos olhos dela esbugalhados, um sangue negro saindo de sua boca. O corpo de Nefertari não resistiu a violência da mordida do lobo, e se partiu em três pedaços. O torax com os membros superiores ficaram na boca do lobo, a parte da cintura com uma das pernas ficou bem a minha frente quando se partiu, me dando um banho de vísceras. Outra perna foi parar bem aos pés de um estupefado Lameque. O lobo gigante lançou o resto do corpo de Nefertari no meio dos demais, foi imediatamente atacado. O que vi então foi épico.
O lobo destroçou tudo que ousou lhe atacar, com um simples movimento das patas dianteiras decapitou Rotgar, Enquanto mordia Ilda, Lameque tentou ataca-lo e perdeu um dos braços na empreitada. Ilda agora era um porrete de carne, usado para esmagar os demais.
- Em nome de Caim, que criatura é esta? - Indagou Lameque segurando a base do ombro, onde deveria começar seu braço.
- Fujam!!!!!!! Agora!!!! - ordenou Lameque. Três escaparam do lobo, um mutilado Lameque, e outros dois não em melhores condições.
Mesmo eu saindo vivo, não sobreviveria. Não haviam médicos, e com o braço direito e o ombro quebrados, eu não tinha chance de sobreviver. Seria melhor que o lobo acabasse com minha vida ali mesmo. O grande animal pareceu me entender, veio em minha direção, e mordeu delicadamente meu pescoço, senti seus dentes entrando em minha carne, no pescoço, no ombro e no peito, pensei então;
" Esta feito!"
Perdi a consciência em algum momento.
O intrigante, é que imaginei que aquele momento era o momento de minha morte, mas na verdade, foi quando nasci.
Acordei não sei quantos dias depois completamente curado, a garota também.
e assim nasceu Samael, o caçador de imortais.

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